domingo, 16 de novembro de 2008


Eu precisei pensar muito a respeito disso. Para ser sincera, ainda estou pensando.

É difícil explicar como pequenos detalhes que você jurava que não tinham importância podem se mostrar tão grandiosos dentro da sua cabeça.

Eu não queria que as coisas fossem assim, não queria que isso importasse tanto. Eu até posso ignorar o fato, mas não posso mudar a forma como ele se manifesta dentro da minha mente.

Talvez valha à pena arriscar, mas certas coisas nós só descobrimos mais tarde, depois que tudo já foi feito.

Ainda há dúvidas por aqui.

Eu ponho tudo na balança e nenhum grama modifica o equilíbrio. Nem meus instintos saem da inércia para me ajudar.

Eu preciso que alguém me diga o que está acontecendo. Alguém que não esteja tão confuso quanto eu.

Esse filme já foi visto várias vezes antes e os finais não foram exatamente variados, mas nunca se sabe o que pode acontecer depois de algum tempo.

Todas as nossas escolhas tem 50% de chances de darem certo. É aí que entra a questão dos riscos. Será que 50% são o suficiente?

Algumas vezes eu tento escrever de forma a disfarçar o que eu realmente quero dizer, e talvez isso funcione, porque nunca ninguém chegou realmente a falar sobre determinadas coisas que eu escondi em meus textos. O que eu não digo é que é exatamente quando eu faço esse tipo de coisa que eu gostaria que fosse interpretado o que está por trás das aparências.

Eu estou falando claramente agora, embora ainda não seja isso que eu quero dizer. Ainda assim, é uma grande pista.
(Alessuza Pires)

sábado, 15 de novembro de 2008


Se não pode me estender um sorriso e me dizer para seguir em frente, apenas não me diga para não ir. Falta de incentivo não vai me impedir, mas é duro ter que seguir sozinha.

Se realmente gosta de mim, me deixe livre para correr atrás de meus sonhos. Eu preciso cometer meus próprios erros para aprender com eles, não posso aprender com os seus.

Se quer me ajudar, não tente me mostrar um caminho diferente, me ajude a traçar de forma diferente o caminho que eu mesma escolhi. Entenda que eu não quero apenas gostar do que faço, não me contento com essa felicidade pela metade; quero fazer o que gosto, tenho essa necessidade de aproveitar tudo que a vida pode me oferecer.

Se não quer que eu te desafie, não o faça primeiro. Tente aceitar que eu sou diferente, que não vejo o mundo da mesma forma que você. Não importa onde eu quero chegar, toda caminhada que eleve a algum lugar onde valha a pena estar requer esforço. Eu não vejo para mim essa vida chata de quem muito se empenha para chegar onde as pessoas acham que seja o melhor lugar.

Se quer me ver feliz, acredite em mim. Acredite que eu sou capaz de seguir o meu caminho e de fazer as coisas darem certo. Não desperte em mim e necessidade de me provar pra você, de te lançar um sorriso convencido da linha de chegada. Esteja lá para sorrir comigo.

Devia saber que eu não vou desistir. Eu tenho a força e a determinação necessárias e sei como chegar onde eu quero. Não tenho medo de tentar e nem de ter de recomeçar do zero caso saia tudo errado. Minha auto-confiança me mantém de cabeça erguida, apesar da sua incredulidade. Sei que você está duvidando. Bem, se acha que eu não posso, apenas assista.
(Alessuza Pires)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

À vó Maria, com carinho!


Hoje a saudade corre profunda no peito, acelera minhas veias e dói no coração.
Queria que ainda estivesse por perto. Talvez seja melhor assim; não saberemos. Faltou uma chance para ser tudo diferente.
Obrigada por ter estado aqui, por ter me amado, e por ter cuidado de mim.
Desculpe estar chorando. É só essa saudade que engasga na minha garganta e deixa a vontade de ter dito só mais uma vez o quanto eu te amo.
Vou cumprir todas as promessas, não se preocupe. Até mesmo aquelas que não chegaram a ser ditas.
Vá em paz. Que encontre agora a felicidade que sempre te pertenceu. Um dia nos veremos novamente. Até lá, apenas continue me amando.

(Alessuza Pires)

domingo, 9 de novembro de 2008

Efêmera Intensidade


Você me disse tantas coisas com seus gestos.
Coisas que eu só poderia sonhar serem reais.
Talvez seja essa a razão da minha incerteza quanto à veracidade de tudo isso.
Poderia eu dizer que foi intenso quando a verdade é que durou apenas um momento?
Quem sabe? Há momentos intensos, afinal.
De qualquer forma, eu não saberia.
Intensidade é sinônimo de profundidade?
Porque se for,não foi profundo. Ou intenso. Senão, eu ainda não saberia.
Mas, como tudo é relativo, não há o que se dizer a respeito.
Não que tenham havido muitas palavras, não é mesmo?
Porque eu não tive a oportunidade de olhar seus olhos, ler sua alma; e sem essa leitura nada mais faz sentido.
Acredite em mim; algumas vezes as palavras se fazem necessárias. É preciso falar, dizer algo.
A beleza do silêncio, como qualquer outra, desaparece se a ocasião é inoportuna.
Não me leve a mal. Há algo de atraente sobre todo esse mistério. Mas também há algo de letal.
Como já foi dito, certas coisas ficam melhores quando subentendidas. Outras não.
É um fim. Aceite. Compreenda. E tente não me esquecer.
(Alessuza Pires)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008


Há certas horas, em que não precisamos de um Amor...
Não precisamos da paixão desmedida...
Não queremos beijo na boca...
E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama...

Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado...
Sem nada dizer...

Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...

Alguém que ria de nossas piadas sem graça...
Que ache nossas tristezas as maiores do mundo...
Que nos teça elogios sem fim...
E que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade
inquestionável...

Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado...
Alguém que nos possa dizer:

Acho que você está errado, mas estou do seu lado...

Ou alguém que apenas diga:

Sou seu amor! E estou Aqui!

(William shakespeare)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Lá e de volta outra vez


Nada como estar novamente ativa depois de um grande período de inatividade, não? (Leia-se falta de criatividade) Creio que não necessitemos de mais explicações.

Tão forte, porém fraca demais

Certa vez me disseram que mesmo os mais fortes são tão fracos quanto nós mesmos
Eu não acreditei. Agora me julgam forte
Esses olhos castanhos que escondem tanto
São os únicos que você é incapaz de decifrar
Tantos segredos, tantos sentimentos, tantas idéias
Coisas que você não pode compreender
Porque eu também posso chorar
Durante a noite, quando as luzes estão turvas e o silêncio é ensurdecedor
Não há mais ninguém para apreciar minha máscara de indiferença
Finalmente posso ser eu
Sem os sorrisos forçados, sem a dissimulação dos pensamentos
Nada de escudos ou defesas, apenas minhas armas de ataque sendo apontadas para o meu pescoço
Não, você não seria capaz de compreender, vocês não seriam
Meus pecados e condenações não pertencem a mais ninguém
No entanto, forçam-se dentro de mim, tentando abrir caminho para o exterior
Mas eu sou forte
Sim, porque agora sei que o sou
Talvez não tão forte quanto as aparências
Mas não sou capaz de chorar na sua frente
Não sou capaz de revelar meus medos, meus anseios, meus sonhos
E guardar isso comigo dia após dia me faz mais forte
Pois há os que não seriam capazes de aguentar
Mas eu posso
Talvez eu seja mais forte do que você jamais será
No entanto, sou tão fraca quanto você jamais será

(Alessuza Pires)

terça-feira, 29 de abril de 2008

A magia de um sorriso


Há algumas coisas que marcam a vida. São fatos simples, normalmente ignorados no momento em que ocorrem. Mas que, em longo prazo, farão uma grande diferença. São acontecimentos que se apossam do seu coração e invadem sua memória quando você menos espera. Coisas que te perseguirão para o resto da sua vida. Como, por exemplo, um sorriso.

Uma vez, há muito tempo atrás, alguém sorriu pra mim. Foi o sorriso mais belo que eu já vi em toda a minha vida. Havia algo a mais ali, algo que eu não tinha. E então eu sorri de volta. Foi aí que meu mundo começou a girar sozinho, me deixando para trás. O que um simples sorriso não é capaz de fazer? Não me pergunte, eu não sei a resposta...

Vi aquele sorriso muitas vezes mais, sempre lindo. E eu sempre sorria de volta. Até o dia em que ele se foi.

Não se foi de verdade, ainda estava lá. Mas algo havia mudado naquele sorriso... E eu não sabia dizer o que era.

Depois de algum tempo eu percebi o que havia acontecido. O sorriso havia se apaixonado... Por outro sorriso, que não era o meu. Apenas assim eu percebi que também havia me apaixonado por aquele sorriso. Eu deveria ter previsto. Era inevitável que isso acontecesse.

Mas já não havia mais sorrisos para que eu pudesse retribuir. E os meus... Transformaram-se em lágrimas. Lágrimas de amor, de decepção... Lágrimas que desciam pela minha face como lava quente e queimavam meu coração. O que eu poderia fazer?

Ignorei as lágrimas. E elas se foram, me deixando sozinha com meu coração, agora vazio.

O tempo foi passando e eu fui conhecendo novos sorrisos. Mas nenhum era tão belo quanto aquele primeiro.

Então eu encontrei. Um novo sorriso. Ainda não era tão belo quanto aquele, nenhum poderia ser, mas havia algo que me prendia. E meu coração, já acostumado à solidão, viu ali uma nova luz. E eu sorri de volta uma vez mais. Mergulhei naquele sorriso. Fiz dele meu alicerce.

Mas não passou de ilusão. Aquele segundo sorriso ainda era belo e único a seu modo, mas era um sorriso diferente. Era um sorriso que estaria sempre ao meu lado quando eu precisasse. Um sorriso que me apoiaria em todos os momentos sem pedir nada em troca. Era um sorriso amigo.

Muitos outros sorrisos iguais ao segundo apareceram em minha vida. Todos belos, únicos, perfeitos a seu modo. Mas a lembrança daquele primeiro sorriso continuou a me assombrar, não se deixando ser preenchida nunca.

Hoje eu conheço mais que esses dois sorrisos. Conheço sorrisos de tristeza, de alegria, de conforto... Conheço sorriso de mãe, de avô, de tio, de primas... Conheço sorrisos infinitos, cada um com um significado diferente. Mas são todos especiais para mim.

Hoje a minha vida é repleta de sorrisos... Eles me perseguem aonde quer que eu vá. Não há um dia que eu passe sem sorrir. E não há um dia que eu passe sem receber um sorriso de volta.

Eu amo sorrir. E amo sorrisos. Eles são o meu tesouro. Mas são também a minha perdição.

Ainda procuro o sorriso mais belo, aquele que preencherá o lugar do primeiro. Não sei se ele existe realmente ou se poderei encontra-lo. Eu simplesmente sigo o meu caminho, buscando por ele, desejando que não seja apenas mais um sonho.

Aquele primeiro sorriso ainda existe. Eu o vejo todos os dias. Seu brilho é tão forte que chega a ofuscar um pouco os demais. De alguma forma, eu sei que ele estará sempre ali, atrás de mim. Meu eterno fantasma.

Mas não quero cair no mesmo erro novamente. Então tudo o que eu faço é não olhar pra trás. E caminho rápido, para impedir que ele me ultrapasse.

Mas eu aprendi uma importante lição. Nunca deixar de sorrir. Porque apenas assim eu poderei mostrar toda a beleza que há em mim de uma só vez. E, com um pouco de sorte, alguém se apaixonará pelo meu sorriso e fará com que ele se torne o mais brilhante. Por que tudo o que algo pode ser é o que você acredita que ele seja.

(Alessuza Pires)

terça-feira, 22 de abril de 2008


Eu já quis saber muito a respeito de tudo. Até descobrir que há coisas que simplesmente não me interessam.
Eu já desejei que não houvesse ninguém lá para expressar suas opiniões. Até descobrir que jamais teria chegado muito longe se acompanhada apenas pela solidão.
Eu já almejei possuir um tesouro inestimável. Até descobrir que não preciso de nada além de ar em meus pulmões e alimento em meu estômago.
Eu já sonhei com a vida eterna. Até descobrir que não daria tanto valor às coisas se não tivesse tão pouco tempo.
u já quis ir embora para bem longe e nunca olhar para trás. Até descobrir que meu passado é quem eu sou e eu não poderia esquecê-lo sem esquecer de mim mesma.
Eu já desejei nunca ter que dizer adeu ao que me é caro. Até descobrir que o adeus nem sempre significa despedida, podendo significar algumas vezes a saudação de uma mudança maravilhosa.
Eu já almejei o sucesso como forma de felicidade. Até descobrir que a felicidade se encontra dentro e não fora de mim.
Eu já sonhei com o reconhecimento pela realização de grandes feitos. Até descobrir que opiniões alheias não podem ser responsáveis por me motivar a fazer algo que gosto.

(Alessuza Pires)

sexta-feira, 21 de março de 2008


Quando eu era menor costumava ter mais inspiração. Sabia exatamente o que queria dizer e não me faltavam temas para escrever. Tudo podia se transformar numa ótima história, num ótimo poema.
Agora observe bem o contraste. Atualmente nem vontade de escrever eu tenho mais, na maior parte das vezes. E quando quero escrever nunca sei o que dizer, me faltam temas, me sobram opiniões.
Ultimamente eu tenho sentido falta de mim. Falta de ser eu mesma. Porque não o tenho sido já há um tempo considerável. Não o tenho sido nem sei desde quando.
Hoje parei para refletir sobre a vida, o passado, o futuro, como tenho feito muito ultimamente. Então me dei conta de que estou crescendo. Não apenas crescendo, mas me tornando adulta. E confirmei, como já suspeitava há muito tempo, que isso não é nada bom.
Agora eu vou te dizer como você percebe que, finalmente, está se tornando adulta.
É quando você acorda e, antes de abrir as janelas, já está pensando nas coisas importantes que tem para fazer, nos problemas que tem que resolver.
É quando você se pega pensando muito tempo nas conseqüências de algo que quer muito fazer.
É quando você deixa de comer uma bela fatia daquele lindo bolo de chocolate pensando em caber no vestido par a festa do fim de semana.
É quando nada mais parece novidade, porque você preferiu se confromar com o que já conhecia à continuar se surpreendendo.
É quando você sente vergonha de pedir colo para a mãe só porque está triste.
Esses são apenas alguns sintomas. E eu aconselho: assim que senti-los faça o possível para evitar que continuem. Porque a tendência é piorar, sempre!

(Alessuza Pires)

sábado, 15 de março de 2008

Poucas pessoas diriam que o dia hoje está bonito, mas eu sou uma dessas pessoas. Adoro dias frios e chuvosos, porque poucas sensações no mundo são melhores que sentir a chuva caindo na pele, lavando a alma, sentir o vento frio bagunçando os cabelos, dando uma ilusória sensação de liberdade.
Ultimamente eu não tenho escrito, não tenho tido criatividade, não tenho tido idéias e nem vontade. Hoje a vontade voltou, mas a distância já avantajada não me permite realizar grandes proezas assim de início. Então me limitarei a deixar um poema de Álvaro de Campos, um do heterônimos de Fernando Pessoa. Eu já conhecia o poema há algum tempo, mas apenas agora, ao estudar Fernando Pessoa mais profundamente, sou capaz de compreendê-lo mais profundamente.

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Beijocas de Chocolate

domingo, 17 de fevereiro de 2008


Há 18 anos nasceu uma menina...

- Como vai se chamar?
- Alessuza!
- Hã?! Aleluia?! (o.Ô)
- Não! A-les-su-za!

O tempo passou e a menina foi crescendo, criando suas próprias opiniões...

- Você realmente acha que vale à pena jogar tudo no lixo dessa forma?
- Nós vemos as coisas de formas diferentes. Eu não enchergo o que estou fazendo como desperdício de esforço, enchergo como uma nova chance de fazer tudo dar certo. Eu já conheço tudo isso, e não gosto. Então não vejo um motivo para continuar nesse caminho.
- É, talvez você esteja certa. Mas eu faria tudo diferente.

...e uma personalidade muito própria também.

- Eu acho que você deveria pedir desculpas.
- Pois eu acho que não. É uma questão de opiniões. E, se eu estiver errada, dane-se. Sou humana, também tenho o direito de errar. Você me condena agora porque eu estou machucando alguém que você gosta, mas não te vi protestar quando me machucaram também.

Ela teve seus dramas...

- Acho que estou apaixonada.
- Por quem?
- Pelo cara errado!
.
- O que está fazendo aqui?
- Só preciso ficar sozinha durante um tempo.
- Você não pode se esconder para sempre.
- Não. Mas posso me esconder pelas próximas semanas.

... e suas comédias.

- Filha, o que você está fazendo?
- Aprendendo a cozinhar.
- Às 2:00 da manhã?! (o.Ô)
- Eu tô sem sono!
.
- E aí, estudou?
- Estudar...? Para quê?
- Hoje tem prova.
- Hoje tem prova? (o.o') De que?
- Física!
- FÍSICA?! A prova de FÍSICA é hoje?! Porque ninguém me avisou? (O.O')
- Mas o calendário foi divulgado na semana passada! (¬¬)

Mas sempre teve coragem para correr atrás dos seus sonhos.

- Então porque você simplesmente não desiste?
- Porque é simples demais.
.
- Teatro? Você sonha alto demais, menina. Vai fazer o que, comer vento?
- Sempre há lugar para quem é bom no que faz.
- E você é tão boa assim?
- Não o suficiente ainda, mas um dia eu chego lá.
- Vai sonhando então...

Essa menina viu muitos de seus sonhos ruírem...

- Porque está chorando?
- De saudades.
- O passado não volta. Você sabe.
- Sim, eu sei. Mas não posso evitar sentir falta de tudo.

...e muitos outros se realizarem também.

- Parabéns! Você estava linda lá em cima.
- Obrigada! Nossa, eu estava tão nervosa. Nem tudo saiu como o planejado, mas acho que ninguém notou, né?!
- Que isso. Acho que ninguém nem imagina. Foi perfeito!
- Que bom! xD

Essa menina possui os maiores sonhos e os melhores amigos do mundo.
Ela gosta de tomar banho de chuva e cantar com o rádio no chuveiro.
Ela não se importa com a opinião alheia e segue em frente mesmo quando o único apoio com o qual pode contar é o seu próprio.
Ela é capaz de segurar as pontas por muito tempo, mas não hesita em baixar a cabeça quando tem um ombro amigo por perto.
Ela lê muitos livros e planta girassóis.
Ela se apaixona com muita facilidade e vive tudo muito intensamente.
Ela se chama Alessuza e sua história ainda não terminou.

(Alessuza Pires)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008


Muitos de nós possuem o costume de pensar que seus amigos são perfeitos. Não falo da perfeição encontrada na ausência dos pequenos defeitos que moldam nossas personalidades. Afinal, não fosse pelos mesmos, seríamos todos tediosamente iguais. Dessa vez eu me refiro a um tipo muito mais complexo de perfeição. A perfeição medida pelo grau de humanidade embutido em cada um de nós.
Por favor, sem hipocrisias. Todos nós temos nossos momentos negros. Aqueles em que torcemos para que 'fulano' tropece de forma teatral enquanto caminha elegantemente para a frente daquele palco ou aqueles em que soltamos gargalhadas internas, e apenas internas, conservando o bom e velho costume de não fazer feio, quando 'ciclano' bebe um pouquinho além da conta e dá aquele showzinho na festa que será o assunto do resto da semana.
Mas, creio eu, a reação de alguns de nós seria bem diferente se as circunstâncias se mostrassem mais sérias. Espero não estar falando apenas por mim quando digo que jamais seria capaz de negar ajuda ao meu maior inimigo que estivesse passando por dificuldades realmente sérias, daquelas capazes de por uma vida em rumos totalmente novos. E a maioria de nós, como boas pessoas, tem o hábito de acreditar que nossos amigos agiriam da mesma forma que nós em situações similares, que em suas veias corre a mesma quantidade de humanidade que nosso próprio coração bombeia junto com o sangue. Mas as coisas nem sempre são assim.
Me lembro de uma vez em que um de meus professores resolveu ter uma conversa "de pai para filhos" com nossa turma. No meio de um papo bem descontraído ele fez uma pergunta inusitada direcionada exclusivamente aos meninos. Não vejo aqui necessidade alguma de citar a pergunta ou qualquer outro detalhe relativo ao fato. Mas o tema que me inspirou hoje foi a lembrança dessa cena. Para ser sincera, me senti chocada e imensamente decepcionada com as respostas. O tipo de decepção que se sente quando se tem espectativas muito grandes a respeito de alguém e descobre-se que a pessoa não é capaz de preenche-las.
A verdade é que passei a olhar todas as pessoas com outros olhos a partir de então. O que aconteceu foi que todas as pessoas que eu esperava que apresentassem um argumento negativo, apresentaram um argumento positivo e as poucas pessoas que me deixaram na dúvida ou então na certeza de que apresentariam o tal argumento positivo me surpreenderam. E o motivo de tamanha surpresa foi a resposta que eu mesma daria caso alguém se interessasse em saber minha opinião a respeito.
O fato, eu aprendi apenas mais tarde, é que pessoas diferentes possuem valores diferentes e isso não impede que se tornem grandes amigos. Opiniões diferentes não devem ser postas em discussão jamais. Eu aprendi a guardar meus valores para mim, embora tenha que admitir que também aprendi a 'julgar' minhas companhias, sejam elas meus melhores amigos ou a recepcionista da clínica médica. Não me envergonho desse julgamento por não estar dentro de meus direitos, como muitos fariam questão de pregar, pois se há algo que todos concordamos é que o autoconhecimento é fundamental e nenhum de nós poderia se ver por completo sem utilizar espelhos.
Hoje penso que cada um de nós deve medir o grau de humanidade presente em si mesmo e depois começar a medi-lo também nas outras pessoas. E quando você encontrar alguém com um grau de humanidade semelhante ao seu,bem... talvez seja interessante convidar essa pessoa para jantar.

(Alessuza Pires)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008


Uma vez um amigo me deu um tema e pediu que eu escrevesse a letra de uma música para ele. O assunto nunca mais foi discutido até que hoje, fuçando textos antigos durante uma tarde mais ou menos tediosa de férias, eu encontrei a tal música e resolvi postá-la.


Sobre te amar

É complicada essa idéia de te ver livre por aí
Saindo com todas essas pessoas vazias
Porque eu perco meu tempo pensando em você
E você revira os olhos como quem diz "tanto faz"

Refrão
Já era, não há mais reação
Fico imaginando como seria
Seguir em frente, olhar adiante
Meus passos ecoando no chão
Só quero estar longe daqui
Em qualquer outro lugar

O que chamam de amor, afinal?
Esse mosntro à espreita que me vigia e me faz vacilar?
Essa estúpida impotência que gira minha cabeça para onde não quero olhar?

Coisa mais estranha
Segura meus pés
Controla meus passos
Não me deixa correr
Eu só quero estar
Em qualquer outro lugar
Longe de você
(Alessuza Pires)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Ah... Que Saudades do Futuro

Pois é... parece estranho dizer, não?
Saudades do futuro...
Mas é isso. É exatamente isso.
Saudades de todos os planos que fiz e que nunca chegaram a se realizar.
E também daqueles que - agora sei - nunca se realizarão.
Continua estranho.
Mas eu tenho saudades do meu futuro.
Saudades de quando ele ainda era futuro - agora que já se tornou prensente.
E continuarei tendo saudades. Talvez estas sejam eternas.
Faz parte da natureza humana isso, não?! Sentir saudades? Mesmo do que nunca aconteceu?
É diferente a saudade gostosa de algo que foi presenciado da saudade agonizante de algo que deveria te-lo sido.
Porque o primeiro tipo faz você se sentir bem, de certa forma. A simples consciência de que aconteceu nos torna mais satisfeitos conosco mesmos. Afinal, saudades apenas se tem do que valeu à pena e satisfação do que foi realizado. Ou não?
Já o segundo tipo vai te consumindo aos poucos. Te faz sentir ligeiramente mais frustrado a cada segundo durante o qual se pensa no assunto. Mas, como qualquer outra coisa na vida, também pode ter seu efeito revertido. Algumas vezes o segundo tipo de saudade te impulsiona rumo às realizações cobradas por sua já conturbada consciência. E aí, ela será mais benéfica que a primeira.
Mas, como eu costumo dizer, tudo na vida é uma questão de interpretação. Cada um deve interpretar seus próprios sentimentos da forma como achar melhor.
Aqui eu vos apresento apenas alguns pensamentos que cruzam minha mente de forma estranha em algum momento em que a mesma se encontre de alguma forma vazia. Nada é fato. Mas também, o que é um fato na vida?

(Alessuza Pires)