segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ela olhou para o céu.
O brilho dos fogos explodindo refletiu-se em seu olhar.
Um sorriso nasceu em seus lábios.
Era tão bonito.
Baixou os olhos para a Terra novamente.
Fitou o mundo ao seu redor.
Pessoas felizes festejavam.
Festejavam a chegada de um novo ano.
Festejavam a esperança que ainda tinham no coração.
Esperança de que tudo daria certo algum dia.
Olhou mais adi
ante.
Em algum lugar longe dali não havia festas.
Não havia esperanças.
Em algum lugar longe dali havia...
...fome...
...tristeza...
...dor...
...sofrimento...
...lágrimas...
...frio...
...e nada que pudesse aquecer aqueles corações.
Voltou os olhos ao céu.
Fogos de artifício ainda pontilhavam o infinito.
Não os viu.
Dessa vez ela olhou além.
E seu olhar a levou para dentro de si mesma.
Buscou as esperanças que guardava em seu próprio coração.
Desejou poder partilhá-las com aquelas pessoas.
Desejou que tudo fosse diferente.
Não em sua vida.
Mas no mundo.
Desejou que os seres humanos se tornassem humanos de verdade.
Humanos para ver o sofrimento alheio.
E fazer algo a respeito.
Desejou que mais pessoas enchergassem o que ela enchergou essa noite.
Desejou que algo fosse feito.
Mais tarde ela falou a respeito para outras pessoas.
Responderam que não era responsabilidade dela.
Ela sentou-se sob o sol e pensou no assunto.
Decidiu não acreditar naquilo.
Alguns anos depois resolveu procurar por aquelas pessoas.
Realizou seu desejo de menina de partilhar com elas suas esperanças.
Fez alguma dirença no mundo, afinal.
Houve outra oportunidade para levantar os olhos ao céu.
Era ano novo mais uma vez.
Teve outra chance para pensar.
Imaginou como teria sido se não tivesse feito o que estava ao seu alcanse.
Desejou que ninguém repetisse que não era sua responsabilidade.
E sentiu-se feliz por jamais ter acreditado nisso.

(Alessuza Pires)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007



INTENSA
Acho que essa é a palavra mais perfeita para me descrever.
Eu que, por tantas vezes senti com tanta força que pensei que poderia explodir.
O que eu sinto agora? Saudades.
Saudades dos meus amigos. Tanto dos que estão longe quanto dos que estão perto.
Saudades da antiga casa dos meus avós, onde eu alimentava a criação e colhia frutas no pomar.
Saudades das aulas de natação, onde eu conversava o tempo inteiro e mergulhava quando era a minha vez de atravessar a piscina.
Saudades também das aulas de teatro. Teatro pelo qual me apaixonei.
Saudades do primeiro amor não correspondido que hoje eu nem me lembro de como me fazia sentir.
Saudades do cachorrinho que tive e fugiu durante a noite. Se chamava Dumbo.
Saudades da minha bizavó, que fazia aniversário um dia depois de mim. Eu sempre ia pra casa dela e nós comíamos bolo de chocolate dançando com o parabéns.
Saudades de uma das melhores amigas que já tive na vida e que espero reencontrar um dia.
Saudades de fazer planos para um futuro que pensei que nunca chegaria e que agora sou obrigada a bater a porta na cara dele.
Saudades de não entender algumas das músicas mais tristes que já ouvi na vida.
Ah...
Como eu odeio ser intensa assim.
Como eu odeio sentir saudades.
Como eu odeio relembrar o passado.
Como eu odeio estar tão assustada, ter medo do futuro...


(Alessuza Pires)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007


Há um preço para tudo, inclusive para a estupidez humana. Nós já fomos longe demais e não há como voltar atrás. Os dados foram lançados, mas a humanidade ainda não aprendeu a jogar esse jogo.

Quando eu era pequena não havia tantas discussões sobre aquecimento global. Os verões não eram tão quentes e os livros de geografia diziam que não havia terremotos ou furacões no Brasil. Bem, na madrugada do dia 09 de dezembro houve um terremoto em Minas Gerais. Uma criança de cinco anos morreu esmagada pelas paredes da própria casa.

Eu só queria entender como as pessoas podem pensar que tais fatos se tratam apenas de fatalidades quando, na verdade, inocentes estão pagando por erros do passado. Erros que foram previstos e ignorados. Erros que já não podem ser concertados.

Eu ainda sou jovem e espero viver muito. Mas tenho medo de saber como será minha vida daqui a algumas décadas, presa num planeta destruído pela ambição humana.

As pessoas insistem em não enxergar, mas a verdade é que caminhamos todos juntos para uma guerra contra a natureza. A mesma natureza que nos criou e que aprendemos a destruir. A natureza que agora busca vingança.

(Alessuza Pires)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Menina do espelho

Ela se olhou no espelho.

Estava igual a todos os dias. Nem mais bonita, nem mais feia. Nem mais gorda, nem mais magra. Nem mais alta, nem mais baixa. Apenas ela, como sempre.

Sentiu-se diferente.

Sentiu-se capaz de compreender coisas que antes ignorava.

Fitou seus olhos.

Perguntas lhe invadiram a mente.

De repente não era mais capaz de se reconhecer.

Quem era aquela estranha que a fitava de volta?

Onde estava a menina de olhar brilhante e sorriso maroto que sempre esteve ali?

Não a encontrou.

Então ela realmente foi capaz de compreender que as coisas são assim. É apenas o ciclo natural da vida.

Um caminho brilhante surgiu lentamente em sua bochecha.

Sentiria saudades.

Estava com medo.

Secou o rosto com as costas da mão.

Decidiu que era melhor assim.

Então, com um último olhar, virou-se e caminhou para longe.

Foi embora; continuou seu caminho.

Nunca olhou para trás.

(Alessuza Pires)

domingo, 2 de dezembro de 2007


Tempo!
Preciso de tempo.
Não tenho tempo.
Não deu tempo.
AAAAAAAHHHHHHHH
CHEGA!!!
"Temos todo tempo do mundo...", lembra-se?
E é verdade!
Nos temos sim todo o tempo do mundo. Apenas não sabemos como utilizá-lo de forma útil.
Eu tenho um defeito. Na verdade, eu tenho vários, mas vamos por apenas um deles em discussão agora. Eu não me preocupo. Com nada. Simplesmente não consigo.
Eu vou lá e faço o que tenho que fazer. Ponto.
Vamos por a sinceridade em foco. Atualmente, tornaram-se muito raras as coisas às quais eu me dedico realmente, de forma integral. A última vez que o fiz foi há algumas semanas já. Mal me lembro da sensação.
Naquela ocasião, o tempo também parecia passar rápido demais e eu parecia estar ficando pra trás. Foi intenso. Valeu à pena.
Mas houve também muitas situações em que eu planejava o que faria, como viveria determinado momento, e não seguia meus planos.
Então o tempo também passava rápido demais, mas me carregava junto com ele; contra a minha vontade. Foi efêmero.
Eis então meu ponto: a que se deve essa tal falta de tempo, à intensidade com que vivemos os momentos, tão bons que nos fazem desejar mais, ou à efemeridade com a qual levamos a vida, como se simplesmente caminhássemos por sua superfície, com medo de mergulhar?
No meu caso? Um pouco dos dois. Eu tenho meus momentos.
Mas, agora que parei para pensar no assunto, acho que quero um pouco mais de intensidade.
Não, quero continuar não me preocupando. Apenas quero de volta essa sensação de me dedicar a algo com tamanha intensidade que me deixe perder no tempo, esquecer da vida.
Intensidade; essa é a palavra! A palavra que devia nascer escrita no peito do pé de cada ser humano.
Por que justo no peito do pé?
Ora, vai dizer que você nunca andou cabisbaixo em um momento mais melancólico do seu dia.
Agora imagine a cena: você se sente triste e resolve sair pra caminhar. Olha para baixo e lê a palavra 'I-N-T-E-N-S-I-D-A-D-E'. Derepente lembra-se do signifidado de tudo isso. Lembra-se que está aqui de passagem e deve aproveitar a viagem ao máximo. Então ganha novo ânimo para sair por aí e realmente viver. Não é o máximo?!
Eu não disse que tenho meus momentos? Até eu gostei dessa idéia doida. Talvez um dia eu resolva passar a mão em uma caneta e sair por aí com a minha nova teoria de vida desenhada no peito do meu pé. Vai bem com sandálias, afinal.

(Alessuza Pires)

sábado, 1 de dezembro de 2007


Sabe aqueles momentos em que você precisa de alguém? Não apenas alguém, mas ALGUÉM.
Precisa da pessoa que simplesmente de senta no sofá e fica te observando, sem nada pra falar, sem nada pra fazer.
Todo mundo já se sentiu assim ao menos uma vez na vida. Chama-se carência.
Mas também há aqueles momentos em que você não precisa de ninguém por perto. Porque é capaz de levantar os olhos para o mundo e fazer qualquer coisa que queira fazer.
Sentar-se sozinha no cinema com uma caixa de chocolates enquanto assiste uma comédia romântica e sentir-se maravilhosamente bem. Aproveitar a sua própria companhia. Divertir-se por nada sem se preocupar com o mundo.
Sabe, muitas pessoas pensam que é preciso companhia para que a vida tenha aquele gosto especial. Mais especificamente falando, companhia romântica. E isso é uma mentira.
Eu penso que as pessoas precisam aprender a aproveitar melhor o tempo que passam sozinhas. Afinal, quem pode ser melhor companhia para mim que eu mesma?
Eu sei do que gosto. Sei o que quero. Me entendo. Me valorizo. Me amo!
É claro que é ótimo ter alguém por perto para aproveitar a vida ao nosso lado. Mas antes disso é preciso que saibamos aproveitar a vida por nós mesmos; ser independentes.

(Alessuza Pires)